Provimento nº 67 do CNJ
disciplina conciliação e mediação em cartórios
Terça-feira,
27 de Março de 2018 11:37
Dispõe sobre os procedimentos de conciliação e de mediação nos serviços notariais e de registro do Brasil.
O
CORREGEDOR NACIONAL DA JUSTIÇA, usando de suas atribuições constitucionais,
legais e regimentais e
§CONSIDERANDO
o poder de fiscalização e de normatização do Poder Judiciário dos atos
praticados por seus orgãos (art. 103-B, § 4º, I, II e III, da Constituição
Federal de 1988)
CONSIDERANDO
a competência do Poder Judiciário de fiscalizar os serviços notariais e de
registro (arts. 103-B, 4º, I e III, e 236, § 1º, da Constituição Federal);
CONSIDERANDO
a competência da Corregedoria Nacional de Justiça de expedir provimentos e
outros atos normativos destinados ao aperfeiçoamento das atividades dos
serviços notariais e de registro (art. 8º, X, do Regimento Interno do Conselho
Nacional de Justiça);
CONSIDERANDO
a obrigação dos notários e registradores de cumprir as normas técnicas
estabelecidas pelo Poder Judiciário (arts. 37 e 38 da Lei n. 8.935, de 18 de
novembro de 1994);
CONSIDERANDO
a incumbência do Conselho Nacional de Justiça de consolidar uma política
pública permanente de incentivo e aperfeiçoamento dos mecanismos consensuais de
solução de litígios (Resolução CNJ n. 125, de 29 de novembro de 2010);
CONSIDERANDO
a efetividade da conciliação e da mediação como instrumentos de pacificação
social, solução e prevenção de litígios;
CONSIDERANDO
a necessidade de organização e uniformização de normas e procedimentos afetos
aos serviços de conciliação, mediação e a outros métodos consensuais de solução
de conflitos, a serem prestados, de forma facultativa, pelos serviços notariais
e de registro;
CONSIDERANDO
as disposições do Código de Processo Civil, da Lei n. 13.140, de 26 de junho de
2015, as sugestões e aquiescência da Comissão de Acesso à Justiça e Cidadania
(CAJC), do Conselho Nacional de Justiça, bem como a decisão proferida nos autos
do Pedido de Providências n. 0005163-92.2017.2.00.0000,
RESOLVE:
Seção I
Das Regras Gerais
Art. 1º Dispor sobre os procedimentos de conciliação e de mediação nos serviços
notariais e de registro do Brasil.
Art. 2º Os procedimentos de conciliação e de mediação nos serviços notariais e de
registro serão facultativos e deverão observar os requisitos previstos neste
provimento, sem prejuízo do disposto na Lei n. 13.140/2015.
Art. 3º As corregedorias-gerais de justiça dos Estados e do Distrito Federal e dos
Territórios manterão em seu site listagem pública dos serviços notariais e de
registro autorizados para os procedimentos de conciliação e de mediação,
indicando os nomes dos conciliadores e mediadores, de livre escolha das partes.
Art. 4º O
processo de autorização dos serviços notariais e de registro para a realização
de conciliação e de mediação deverá ser regulamentado pelos Núcleos Permanentes
de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (NUPEMEC) e pelas
corregedorias-gerais de justiça (CGJ) dos Estados e do Distrito Federal e dos
Territórios.
Parágrafo ùnico: Os serviços notariais e de registro poderão solicitar autorização
específica para que o serviço seja prestado, sob supervisão do delegatário, por
no máximo cinco escreventes habilitados.
Art. 5º Os procedimentos de conciliação e de mediação serão fiscalizados pela CGJ e
pelo juiz coordenador do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania
(CEJUSC) da jurisdição a que estejam vinculados os serviços notariais e de
registro.
1º O
NUPEMEC manterá cadastro de conciliadores e mediadores habilitados, do qual
deverão constar dados relevantes de atuação, tais como o número de causas de
que participou, o sucesso ou insucesso da atividade, a matéria sobre a qual
versou a controvérsia, além de outras informações que julgar relevantes.
2º Os
dados colhidos na forma do parágrafo anterior serão classificados
sistematicamente pelo NUPEMEC, que os publicará, ao menos anualmente, para
conhecimento da população e para fins estatísticos e de avaliação da
conciliação e da mediação pelos serviços notariais e de registro e de seus
conciliadores e mediadores.
Art. 6º Somente poderão atuar como conciliadores ou mediadores aqueles que forem
formados em curso para o desempenho das funções, observadas as diretrizes
curriculares estabelecidas no Anexo I da Resolução CNJ n. 125/2010, com a
redação dada pela Emenda n. 2, de 8 de março de 2016.
1º O
curso de formação mencionado no caput deste artigo será custeado pelos serviços
notariais e de registro e será ofertado pelas escolas judiciais ou por instituição
formadora de mediadores judiciais, nos termos do art. 11 da Lei n. 13.140/2015,
regulamentada pela Resolução ENFAM n. 6 de 21 de novembro de 2016.
2º Os
tribunais de justiça dos Estados e do Distrito Federal e dos Territórios
poderão credenciar associações, escolas e institutos vinculados aos serviços
notariais e de registro não integrantes do Poder Judiciário para que realizem,
sob supervisão, o curso de formação mencionado no caput deste artigo, desde que
respeitados os par?metros estabelecidos pela Resolução ENFAM n. 6/2016.
3º Os
conciliadores e mediadores autorizados a prestar o serviço deverão, a cada 2
(dois) anos, contados da autorização, comprovar à CGJ e ao NUPEMEC a que estão
vinculados a realização de curso de aperfeiçoamento em conciliação e em
mediação.
4º A
admisão, como conciliadores ou mediadores, daqueles que comprovarem a
realização do curso de formação mencionado no caput deste artigo promovido por
entidade não integrante do Poder Judiciário e anterior à edição deste
provimento será condicionada a prévio treinamento e aperfeiçoamento (art. 12, § 1º, da Resolução CNJ n. 125/2010).
Art. 7º O
conciliador e o mediador observarão os princípios e regras previstos na Lei n.
13.140/2015, no art. 166 do CPC e no Código de Ética de Conciliadores e
Mediadores (Anexo III da Resolução CNJ n. 125/2010).
Art. 8º Toda e qualquer informação revelada na sessão de conciliação ou mediação será confidencial, salvo as hipóteses do art. 30 da Lei n. 13.140/2015.
1º O
dever de confidencialidade aplica-se ao conciliador, ao mediador, às partes, a
seus prepostos, advogados, assessores técnicos e a outras pessoas que tenham,
direta ou indiretamente, participado dos procedimentos.
2º Não
será protegida pela regra de confidencialidade a informação relativa à ocorrência de crime de ação pública.
3º A
confidencialidade não afastará o dever de prestar informações à administração
tributária.
4º Serão
vedados para fim diverso daquele expressamente deliberado pelas partes o registro,
a divulgação e a utilização das informações apresentadas no curso do
procedimento.
Art. 9º Aos que atuarem como conciliadores e mediadores aplicar-se-ão as regras de
impedimento e suspeição, nos termos do disposto nos arts. 148, II, 167, § 5º,
172 e 173 do CPC e 5º a 8º da Lei n. 11.340/2015, devendo, quando constatadas
essas circunstâncias, ser informadas aos envolvidos, interrompendo-se a sessão.
Parágrafo Único. Notários e registradores poderão prestar serviços profissionais
relacionados com suas atribuições às partes envolvidas em sessão de conciliação
ou de mediação de sua responsabilidade.
Seção II
Das Partes
Art. 10.
Podem participar da conciliação e da mediação como requerente ou requerido a
pessoa natural absolutamente capaz, a pessoa jurídica e os entes
despersonalizados a que a lei confere capacidade postulatória.
1º A
pessoa natural poderá ser representada por procurador devidamente constituído,
mediante instrumento público ou particular com poderes para transigir e com
firma reconhecida.
2º A
pessoa jurídica e o empresário individual poderão ser representados por
preposto, munido de carta de preposição com poderes para transigir e com firma
reconhecida, sem necessidade da existência de vínculo empregatício.
3º Deverá ser exigida da pessoa jurídica a prova de representação mediante a exibição dos
seus atos constitutivos.
4º Os
entes despersonalizados poderão ser representados conforme previsto em lei.
Art. 11.
As partes poderão ser assistidas por advogados ou defensores públicos munidos
de instrumento de mandato com poderes especiais para o ato.
Parágrafo ùnico. Comparecendo uma das partes desacompanhada de advogado ou de defensor
público, o conciliador ou mediador suspenderá o procedimento até que
todas estejam devidamente assistidas.
Seção III
Do Objeto
Art. 12.
Os direitos disponíveis e os indisponíveis que admitam transação poderão ser
objeto de conciliação e de mediação, o qual poderá versar sobre todo o conflito
ou parte dele.
1º A
conciliação e a mediação que envolvam direitos indisponíveis, mas transigíveis,
deverão ser homologadas em juízo, na forma do art. 725, VIII, do CPC e do art.
3º, § 2?, da Lei n. 13.140/2015.
2º Na
hipótese do parágrafo anterior, o cartório encaminhará ao juízo competente o
termo de conciliação ou de mediação e os documentos que instruíram o procedimento e, posteriormente, em caso de homologação, entregará o termo
homologado diretamente às partes.
Seção IV
Do
Requerimento
Art. 13.
O requerimento de conciliação ou de mediação poderá ser dirigido a qualquer
serviço notarial ou de registro de acordo com as respectivas competências (art.
42 da Lei n. 13.140/2015).
Parágrafo único. Admitir-se-á a formulação de requerimento conjunto firmado pelos
interessados.
Art. 14.
São requisitos mínimos do requerimento de realização de conciliação ou de
mediação:
I - qualificação do requerente, em especial, o nome ou denominação social,
endereço, telefone e e-mail de contato, número da carteira de identidade e do
cadastro de pessoas físicas (CPF) ou do cadastro nacional de pessoa jurídica
(CNPJ) na Secretaria da Receita Federal, conforme o caso;
II ? dados suficientes da outra parte para que seja poss?vel sua identifica??o
e convite;
III - a indicação de meio idôneo de notificação da outra parte;
IV - narrativa sucinta do conflito e, se houver, proposta de acordo;
V - outras informações relevantes, a critério do requerente.
1º Para
os fins do caput deste artigo, os serviços notariais e de registro poderão
disponibilizar aos usuários, por intermédio da rede mundial de computadores ou
presencialmente, um formulário-padrão.
2º Caberá ao requerente oferecer tantas cópias do requerimento quantas forem as partes
interessadas, caso não opte pelo meio eletrônico como forma de notificação.
3º Serão
de inteira responsabilidade do requerente a veracidade e correção dos dados
fornecidos relacionados nos incisos I a V deste artigo.
Art. 15.
Após o recebimento e protocolo do requerimento, se, em exame formal, for
considerado não preenchido algum dos requisitos previstos no art. 14 deste
provimento, o requerente será notificado, preferencialmente por meio
eletrônico, para sanar o vício no prazo de 10 (dez) dias, marcando-se nova data
para audiência, se necessário.
1º Persistindo o não cumprimento de qualquer dos requisitos, o conciliador ou o
mediador rejeitará o pedido.
2º A
inércia do requerente acarretará o arquivamento do pedido por ausência de
interesse.
Art. 16.
No ato do requerimento, o requerente pagará emolumentos referentes a uma sessão
de mediação de até 60 (sessenta) minutos.
Art. 17.
A distribuição do requerimento será anotada no livro de protocolo de
conciliação e de mediação conforme a ordem cronológica de apresentação.
Art. 18.
Ao receber o requerimento, o serviço notarial ou de registro designará, de
imediato, data e hora para a realização da sessão de conciliação ou de mediação
e dará ciência dessas informações ao apresentante do pedido, dispensando-se a
notificação do requerente.
1º A
ciência a que se refere o caput deste artigo recairá na pessoa do apresentante
do requerimento, ainda que não seja ele o requerente.
2º Ao
apresentante do requerimento será dado recibo do protocolo e de todos os
valores recebidos a título de depósito prévio.
Art. 19.
A notificação da parte requerida será realizada por qualquer meio idôneo de
comunicação, devendo ocorrer preferencialmente por meio eletrônico, por carta
com AR ou notificação por oficial de registro de títulos e documentos do
domicílio de quem deva recebê-la.
1º O
serviço notarial ou de registro informará ao requerente os meios idôneos de
comunicação permitidos e respectivos custos.
2º O
requerente arcará com o custo da notificação; no entanto, se for feita por meio
eletrônico, não será cobrada.
3º O
custo do envio da carta com AR não poderá ser superior ao praticado pela
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e o custo da notificação por
oficial de registro de títulos e documentos será o previsto na tabela de
emolumentos.
Art. 20.
O serviço notarial ou de registro remeterá, com notificação, cópia do
requerimento à parte requerida, esclarecendo, desde logo, que sua participação
na sessão de conciliação ou de mediação será facultativa e concederá prazo de
10 (dez) dias para que, querendo, indique, por escrito, nova data e horário,
caso não possa comparecer à sessão designada.
Parágrafo único. Para a conveniência dos trabalhos, o serviço notarial ou de registro
poderá manter contato com as partes no intuito de designar data de comum acordo
para a sessão de conciliação ou de mediação.
Seção V
Das
Sessões
Art. 21.
Os serviços notariais e de registro manterão espaço reservado em suas
dependências para a realização das sessões de conciliação e de mediação durante
o horário de atendimento ao público.
1º Na
data e hora designados para a realização da sessão de conciliação ou de
mediação, realizado o chamamento nominal das partes e constatado o não
comparecimento de qualquer delas, o requerimento será arquivado.
2º Não se
aplicará o disposto no parágrafo anterior se estiverem preenchidos,
cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - pluralidade de requerentes ou de requeridos;
II - comparecimento de ao menos duas partes contrárias com o intuito de
transigir;
III - identificação formal da viabilidade de eventual acordo.
3º A
sessão de conciliação ou de mediação terá eficácia apenas entre as partes
presentes.
Art. 22.
Obtido o acordo, será lavrado termo de conciliação ou de mediação e as partes
presentes assinarão a última folha do termo, rubricando as demais. Finalizado o
procedimento, o termo será arquivado no livro de conciliação e de mediação.
Parágrafo Único. Será fornecida via do termo de conciliação ou de mediação a cada uma das
partes presentes à sessão, que será considerado documento público com força de
título executivo extrajudicial, nos termos do art. 784, IV, do CPC.
Art. 23.
A não obtenção de acordo não impedirá a realização de novas sessões de
conciliação ou de mediação até que finalizadas as tratativas.
Art. 24.
O pedido será arquivado, independentemente de anuência da parte contrária, se o
requerente solicitar, a qualquer tempo e por escrito, a desistência do pedido.
1º Solicitada a desistência, o requerimento será arquivado em pasta própria, não
subsistindo a obrigatoriedade de sua conservação quando for microfilmado ou
gravado por processo eletrônico de imagens.
2º Presumir-se-á a desistência do requerimento se o requerente, após notificado,
não se manifestar no prazo de 30 (trinta) dias.
Art. 25.
Em caso de não obtenção do acordo ou de desistência do requerimento antes da
sessão de conciliação ou de mediação, o procedimento será arquivado pelo
serviço notarial ou de registro, que anotará essa circunstância no livro de
conciliação e de mediação.
Fonte: CNJ
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